boa noite, solidão!

Boa noite, solidão!

Já me aguardavas no meu leito

Para acompanhar-me na noite?

Do que devemos falar,

De devaneios, sonhos, ou paixão?

Boa noite, solidão!

Amiga incerta e vã...

Acaricia-me as lágrimas e se deleita em meu divã.

Queres desabafar, rir, chorar,

Aconselhar-me ou calar-me?

Boa noite, solidão!

Queira ao menos me ouvir agora,

Já que vieste de fora, para deitar-se comigo!

Seja de certo meu ombro amigo

Ouça minhas palavras, distinta senhora!

Algo maltrata meu peito

Flores denominadas amor!

O que fazer nesta hora, em que tudo se torna distante

E o que mais me parece constante és tu, solidão?

Leva consigo meu peito

E este amor que nem mesmo sei direito

Se posso chama-lo de amor!

E agora, de tristeza, fechei meus olhos

Boa noite, solidão!



Débora Santos





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sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

DESTA VEZ, UM SAMBA

Ainda não!
Não me chame agora!
Ainda ando tristonho
Ainda não acabei aquele verso
Nem aquele samba!
Ainda não!
Os boêmios, excluiram-me da roda dos bambas
Dizendo que só quero ilusão
E eles, eles não?
Eles é que andam chorando, se acabando, bebendo,
Fingindo alegria...
Aqueles boemios é que andam em meio a arrelias,
Repetindo o verso dos outros!

Eu também sou bamba!
Na roda de samba meu verso é quem manda!

Ainda não!
Não me chame agora!
Justo agora que sussurrei um verso
No ouvido do surdo,
E ele repicou!
Ao choro da cuíca,
A mulata sambou!

E quanto aos boêmios,
Deixem que repitam meus versos!

Ainda não!
Não me chame agora!
Ainda falta o remate, o empate,
O fim deste combate!
Sou poeta, sou boêmio, sou bamba!
Sou verso, sou madrugada, sou samba!

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

De pé a porta

Parou de pé a porta, e olhou-me como se nunca houvesse me visto...
Por um segundo, um apenas, senti-me amado por ti com clemencia...
Os teus olhos eram tao bondosos naquele instante, e eram tao infantis...
Eu estava deitado no nosso leito, com meu coração partido,
e um pedaço dele estava em uma das tuas mãos...
Então, pedi que fosses minha amante, nem que fosse somente naquele instante...
Com certa incerteza, titubeou em lançar-se em meus braços.
Insisti sem dizer sequer uma palavra, apenas com meu olhar de mendigo faminto,
que deseja saciar sua fome...
Sim tu eras meu desejo de faminto, seria teu beijo a cura para meu sacrilégio,
um benefício para minha alma vazia...
Tu ainda te mantinha de pé à porta, e apertava uma mão contra a outra, como se isso lhe acalmasse os sentidos.
E teu olhar tinha rosto de lembrança...
Parecia que te recordavas de antigas historias de nós dois...
Então desta vez, e para interromper teu pensamento, pois isto com certeza, a faria se afastar do sabor do meu abraço, desta vez, eu lhe pedi com palavras ofegantes,
que mesmo que fosse somente naquele instante, que se lançasse no meu beijo...
E tu te continhas, feito uma doce virgem, como se teus nunca houvesse provado o beijo de um cavalheiro!
Com aspecto soturno de alguem que estava ao pé de desisitir, voltei meu semblante ao solo, e despedi-me de ti...
Entao tiveste receio de perder-me naquela madrugada promissora, e jogou-se em meus braços, como fera desesperada!
Beijou-me com a voracidade de um faminto diante de um banquete!
Tu devoraste-me o beijo com amor ardente, e por fim amou-me como uma amante sublime e gentil, e fez-me ama-la ainda mais.
Entao desta vez tu, despediu-se de mim, foi-se embora e olhou apenas uma vez para traz, e ofereceu-me uma piscadela...
Ai de mim, que ainda estou aqui, esperando-te de pé a porta...