boa noite, solidão!

Boa noite, solidão!

Já me aguardavas no meu leito

Para acompanhar-me na noite?

Do que devemos falar,

De devaneios, sonhos, ou paixão?

Boa noite, solidão!

Amiga incerta e vã...

Acaricia-me as lágrimas e se deleita em meu divã.

Queres desabafar, rir, chorar,

Aconselhar-me ou calar-me?

Boa noite, solidão!

Queira ao menos me ouvir agora,

Já que vieste de fora, para deitar-se comigo!

Seja de certo meu ombro amigo

Ouça minhas palavras, distinta senhora!

Algo maltrata meu peito

Flores denominadas amor!

O que fazer nesta hora, em que tudo se torna distante

E o que mais me parece constante és tu, solidão?

Leva consigo meu peito

E este amor que nem mesmo sei direito

Se posso chama-lo de amor!

E agora, de tristeza, fechei meus olhos

Boa noite, solidão!



Débora Santos





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sexta-feira, 30 de abril de 2010

À Maria

Aquela perversa, a Maria
Entardecendo meu dia
Indo embora dizia
Adeus e eu não respondia
Pensou então que era rebeldia
Mas não era, não era Maria...
Era um amor que em meu peito ardia
Toda vez que em teu rastro eu ia
Chorando por ela, a maldita sorria
Repousar em teu seio era o que eu queria
Mas ela, malvada Maria
Pena de mim não nutria
Que eu era vagabundo ela sabia
Mas de tudo isso desconhecia
Que somente por ela meu olhar padecia
E eu escondido do teu olhar, eu morria
Um pedaço de mim, indo embora, ia, ia...
Ai, nobre Maria
Eu juro que ficaria
Em teu peito de nostalgia
Mil noites, mil dias...
Sei que este poema não a convenceria
De que meu lamento não é covardia
Mas da minha poesia ela não entendia
E de mim novamente diria:
'Tu és ilusão e poesia'
Pois meu sofrer veio a ser melodia
Amo-te ainda Maria!
Mas estou a partir Maria
E se amor isto não fosse Maria
Nem sequer um verso eu rimaria!
E este poema foi somente por ti, por ti Maria!

SO NO CIRCO

Cadê o palhaço
Palhaço que roubou minha graça?

Cadê o palhaço
Palhaço que deixou-me em desgraça?

Cadê o palhaço
que me deixou só neste circo?

Cadê o palhaço
que fez-me notar que eu não era mais criança?

Cadê o palhaço
que disse uma anedota que não entendi

Cadê o palhaço
que juntou-me quando eu precisa me dividir?

Cadê o palhaço
que pintou de vermelho o meu nariz?

Cadê o palhaço?
que foi embora e me deixou com a piada ao meio?

Cadê o palhaço?
que roubou meu coração e partiu em dois meu seio?

Cadê o palhaço?
que me deixou só neste circo?

DE BORBOLETAS E FLORES

As borboletas, flores que voam!
Pétalas solitárias em busca de que?
Querem um ramo, fingir sem espinhos

Borboletas são flores,
que tem liberdade, mas não tem perfume...

Voam sozinhas, desdenham do vento
Do tormento de não ter carinho dos apaixonados...
não são ideais nas poesias,
O destino dos poetas!
Que sempre as martirizam...

Coitadinhas...
As borboletas só queriam ser flores...

quarta-feira, 14 de abril de 2010

EU, PALHAÇO...


EU, PALHAÇO SEM GRAÇA
REPETIA VERSOS BOBOS
VESTIA TRAJES INFANTIS
E PINTAVA MEU BEIJO RUBRO
COM UM SORRISO AUSENTE

COM MALABARISMOS RIDÍCULOS
ROUBAVA RISADAS 
SARCÁSTICASEU ENALTECIA MINHA RIDICULEZ
E EXALTAVA A BESTA LUCIDEZ
DE QUE EU ERA MAIS TOLO
QUE AQUELES QUE ME APLAUDIAM

MINHA BRINCADEIRA SEM ORGULHO
PUTRIFICAVA FEITO GORGULHO
DEVOLVIA O DESAPEGO DE NÓS DOIS

PALHAÇO TRISTE, PROVAVA QUE A BELEZA INEXISTE
CAMBALHOTAS IDIOTAS

AS MULHERES SORRIAM
OS HOMENS INSISTIAM

E EU, EU PALHAÇO SEM GRAÇA, CHORAVA
NUM PALCO OFUSCADO
E PRA MULHER MINHA, EU, INDESEJADO...
FEITO RISO ABANDONADO
EU BRINCAVA COM BOLAS
E ELA, DONA DE SI, SENHORA!
RIA DE MIM...

EU EM MEU PALCO BOBÃO...


LEVA!
LEVA DESTE PALHAÇO
A ALMA, O CORAÇÃO...