boa noite, solidão!

Boa noite, solidão!

Já me aguardavas no meu leito

Para acompanhar-me na noite?

Do que devemos falar,

De devaneios, sonhos, ou paixão?

Boa noite, solidão!

Amiga incerta e vã...

Acaricia-me as lágrimas e se deleita em meu divã.

Queres desabafar, rir, chorar,

Aconselhar-me ou calar-me?

Boa noite, solidão!

Queira ao menos me ouvir agora,

Já que vieste de fora, para deitar-se comigo!

Seja de certo meu ombro amigo

Ouça minhas palavras, distinta senhora!

Algo maltrata meu peito

Flores denominadas amor!

O que fazer nesta hora, em que tudo se torna distante

E o que mais me parece constante és tu, solidão?

Leva consigo meu peito

E este amor que nem mesmo sei direito

Se posso chama-lo de amor!

E agora, de tristeza, fechei meus olhos

Boa noite, solidão!



Débora Santos





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domingo, 26 de abril de 2009

quarta-feira, 22 de abril de 2009


EU VI UM MENDIGO

Este mendigo estava sem lar...
Tinha numa das mãos uma trouxa;
N'outra a desilusão
Carregava nos olhos, o vazio da solidão.
Trazia nos lábios, uma palavra silenciada...
Trazia nos lábios, a fome, o nada...
Trazia nos ombros, o peso do mundo!
Este mendigo, trazia nas vestes,
O cheiro pútrido da miséria sua...
Este mendigo trazia nos traços
Lembranças do rosto do meu avô!

Meu avô era mediano!
Meu avô era negro!
Meu avô era magro!
Meu avô era solitário!

Este mendigo trazia nos passos
Os rastros do meu avô...
Meu avô não era belo...
Meu avô era nobre...
Meu avô era pobre...

Este mendigo era deste planeta
Meu avô 'Marciano'...

Eu vi o mendigo aquela noite...
Ele era magro também!
Ele era negro também!
Ele era solitário também!
Ele, a todo instante dizia um 'ai'!

Mas o meu avô, meu avô era pai!
Meu avô Marciano, era pai do meu pai...


20/04/09

sexta-feira, 10 de abril de 2009

Rias de Mim




Hoje eu parei
Com meu corpo inerte
E com os olhos pairando sob o nada,
Deixei que meus sentidos voassem

Eu já conhecia teus olhos!
Eu os via algum tempo...
E nesta noite parecia-me que iam embora
Eu os via todos os dias!
Mas nesta noite havia um pouco de adeus!

Eu nada sabia sobre despedidas
Apenas sobre descobertas!

Estes olhos que recebiam-me sempre a sorrir
Hoje estava conciso, morno, meio morto, teu olhar
Eu me vesti de palhaço sem saber!
havia uma lágrima
Ela escapou dos meus olhos
Eu não sabia dizer adeus
E fostes assim sem acenar a outrora afável mão
Como eu acenaria a mão, a mão minha?!
Que por caminho só conhecia o das tuas curvas?
Como conter os olhos a lacrimejar
Molhados pelo desprezo dos teus...
O que fazer com um dia inteiro sem ti?
Pois metade de mim a desejava, meio dia
E a outra metade a possuía, meia noite!
O que faço deste tolo que sou, que fui
afoito sem o teu, o nosso mórbido coito?

Eu quis pedir que ficasse
Que não partisse
Mas minha boca boquiaberta, calou-se!
Justo eu, que julgava-me conhecedor das palavras, do amor?
não soube o que dizer a tua mão de adeus

Fui acompanhando com o olhar
Tua silhueta partindo...
O vento ainda perambulou em teus cachos.
então fostes embora rebolante a caminhar...

Então senti-me ainda mais feio!
Corri os olhos a vidraça e percebi um semblante áspero
Vi um homem calvo, gordo e mediano,
Com um cigarro nos dedos, e um copo nas mãos.
vi meu aspecto desfazendo-se feito fumaça!

Quis correr ao teu encontro.
Deitar-lhe um beijo angustiado
E depois desfalecer aos teus pés fugitivos.
No entanto tu partirias mesmo assim
A limpar com o verso da mão
o desenho molhado do meu beijo rogado!
Jogaria os cachos caramelados como símbolo de desprezo
E partirias ainda mais depressa!
Abandonando meu corpo moribundo no caminho
Tendo como consolo meu ultimo suplício.

Então desta vez eu choraria alto!
Berraria teu nome rente a ofensas!
Lamentaria aos teus conhecidos e estranhos
Diria que eras cruel!
Que escarrara na face do meu amor!
Que desdenhara de mim!
Que debochara do poema que lhe dei!

Eu maquinava ainda com o corpo lançado ao solo
No entanto calei-me!
Não a chamei
Deixei teu corpo caminhado ainda com o cheiro do adeus
Ainda restava em meus olhos a lembrança do teu semblante
Afável, fidalgo, belo...
Ajeitei-me a sarjeta;
Queimei meu cigarro, tomei o meu trago,
E não mais chorei!