boa noite, solidão!

Boa noite, solidão!

Já me aguardavas no meu leito

Para acompanhar-me na noite?

Do que devemos falar,

De devaneios, sonhos, ou paixão?

Boa noite, solidão!

Amiga incerta e vã...

Acaricia-me as lágrimas e se deleita em meu divã.

Queres desabafar, rir, chorar,

Aconselhar-me ou calar-me?

Boa noite, solidão!

Queira ao menos me ouvir agora,

Já que vieste de fora, para deitar-se comigo!

Seja de certo meu ombro amigo

Ouça minhas palavras, distinta senhora!

Algo maltrata meu peito

Flores denominadas amor!

O que fazer nesta hora, em que tudo se torna distante

E o que mais me parece constante és tu, solidão?

Leva consigo meu peito

E este amor que nem mesmo sei direito

Se posso chama-lo de amor!

E agora, de tristeza, fechei meus olhos

Boa noite, solidão!



Débora Santos





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sábado, 5 de setembro de 2009


A SOLIDAO


O que fazer quando ela chegar?
Virar a face como sinônimo de indiferença?
Pedir cuidadosamente que se retire?
Ou dar a ela toda crença?
Quando ela chegar, subitamente invadindo meu ego,
apossando-se do que restou, o que fazer?
E se ela chegar de mansinho, tomando um só cantinho
e depois pra sempre ficar?
Ela vai me acusar me ofender, agredir...
Ela vai ficar gigante dentro do meu vazio
Vai fazer-me chorar
O que fazer quando ela chegar?
Já posso ouvir seus passos!
Já posso adivinhar seus planos!
Já posso a sentir
Entrando; por alguma porta!
Mas estão fechadas; janelas e portas.
E não ouço nenhum ruído nem as vozes da noite
Não tem ninguém aqui!
Como pode ela chegar assim?
Se não tenho amigos nem pais?
O que fazer quando ela chegar?
Ouvirei sua voz a chamar?
Anunciará no jornal de domingo?
Deixará um bilhete debaixo da porta?
Mas estou sozinho neste quarto,
Sem ninguém para chorar minhas magoas ou brindar alegrias
Não posso escolher dentre amigos, qual o melhor coração;
Ou a maior alma ‘não possuo amigos’
O que farei quando ela chegar?
Falarei sobre meus amores frustrados, de desilusões,
Sobre sonhos?
Não sei, faz algum tempo que não falo com ninguém.
O que farei? O que farei?
Estou com medo de sua chegada
Pousará com asas na minha janela
Chegará discretamente disfarçada
Chamara na porta?
Ou gritará na esquina?
Estou aflita!
Mas não, realmente não devo temer!
Ouço uma voz a me dizer:
“Eu já estou aqui faz algum tempo, e você já se acostumou comigo”.
“Eu sou sua amiga e sua inimiga”...
Muito prazer,
Sou solidão!”


Débora Santos

RIACHO


Na beira de um riacho
Sentei-me cabisbaixo
Olhando para baixo
Segurando o coração
Pensei em jogá-lo na fonte
Que acaba defronte
Defronte a solidão
Minha alma chorando dizia
Que a doce água descia
Levando consigo a minha ilusão
No doce riacho
Qual riacho doce
Leva em suas águas a pouca esperança
A qual nunca se cansa
E se deixa tornar canção
Na grossa areia da fonte
Que se acumula aos montes
A preta desilusão
Elevo meus olhos ao céu
E peço a papai do céu
Que se me deres uma chance
Não serei mais como antes
Em troca lhe faço uma prece
Pedindo a estrela que desce
E cai pendente
A estrela cadente
Devolvendo o sonho ao meu coração
Que agora suponho em fertilizar a semente
Na doce água do riacho corrente
Que de volta trouxe vida a minha ilusão!

A MAE AUSENTE...



Mãe, tu és comparada a uma arvore frutífera;
A qual deu luz a uma ceifa de bons frutos.
Tu és rosa que colore um imenso jardim
Tu escapaste das minhas mãos feito um pássaro
E te perderam meus olhos no desmedido azul!
Fragmentos e ti estão vagos em meu ser
Esta imune aos meus apelos
Fechados estão teus ouvidos a meus lamentos
Eu sou a flor derradeira de teu imenso jardim...
Um botão de rosa a desabrochar sem tua luz serena
Falta-me o orvalho a banhar as pétalas vermelhas de sangue
Tuas lagrimas sutis que são como o orvalho cristalino
Falta-me a brisa a consolar-me tua ausência
Sou um pássaro em cativeiro
A cantar o desconsolo ao vento
A cantar inútil a esperança morta

(homenagem a minha saudosa mae)

MORENO

Moreno, não posso sair no sereno.
Não vou armar barraca em teu terreno
Não vou invadir teu espaço.
Mas me diz o que eu faço
Quando me perco em teus olhos pequenos
Em tua pele morena, com cor de canela;
E esta voz que me parece o vento suave a balbuciar com a janela
Diz-me moreno
Que não tem feitiço em teus olhos
E mágica em tuas mãos
E que quando me pedes um beijo
Foge da minha boca qualquer possibilidade de um não!
Fale-me moreno
Em que escola aprendeu a ser tão sereno
Onde foi que conquistou este gostoso veneno
Onde foi que bronzeou este corpo de pecado moreno
Onde foi moreno, onde foi?
Que aprendeu a cativar tantos corações pequenos?
E adoçou esta boca que tanto fala de amor
Onde comprou este cheiro de flor
Onde foi moreno, onde foi?
LABIOS DE POETA

O que dizem teus olhos de criança
O que dizem teus lábios de poeta
O que se passa nessa cabeça, moço.
Onde esta teu sorriso de esperança
Onde foram tuas doces palavras de encanto
Agora, desencadeia teu pranto!
Onde as canções ternas que dizem de amor
E suas lembranças de festas e parques
Teu paraíso de sonhos...
Onde menino?
Tardes de sol, inverno gotejante, outonos e vendavais e verões...
Onde foram as bolhas de sabão ao vento?
Onde violetas e dálias
Emudecidos estão teus lábios, moço!
Não balbucia sequer uma palavra
Onde moço, onde?
Nós outra vez, falando de flores,
Falando de cores...
Ah! Lábios de poeta...
Diga-me apenas uma palavra de acalento
Para que baste meu pranto
Diga-me só mais um verso
Para que eu sonhe de novo com teus lábios de poeta...