boa noite, solidão!

Boa noite, solidão!

Já me aguardavas no meu leito

Para acompanhar-me na noite?

Do que devemos falar,

De devaneios, sonhos, ou paixão?

Boa noite, solidão!

Amiga incerta e vã...

Acaricia-me as lágrimas e se deleita em meu divã.

Queres desabafar, rir, chorar,

Aconselhar-me ou calar-me?

Boa noite, solidão!

Queira ao menos me ouvir agora,

Já que vieste de fora, para deitar-se comigo!

Seja de certo meu ombro amigo

Ouça minhas palavras, distinta senhora!

Algo maltrata meu peito

Flores denominadas amor!

O que fazer nesta hora, em que tudo se torna distante

E o que mais me parece constante és tu, solidão?

Leva consigo meu peito

E este amor que nem mesmo sei direito

Se posso chama-lo de amor!

E agora, de tristeza, fechei meus olhos

Boa noite, solidão!



Débora Santos





todos os direitos reservados

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

O cio e o gato




Minha boca mentia...
Enganava-te com doçura de mel.
Atraí-te para minha teia
E degustei teu corpo, lentamente...
Havia em teus olhos,
A fé dos ateus
Havia em teus olhos escuros, o breu
Eu feito um bicho vadio,
Corrompia teu cio
Beijava teu beijo
Lambia teu lábio
Fazia-me sábio!
Em meu peito vazio
A sede ardia,
A fome doía
Tinha desejo de gato no cio!
Uivava na noite
Nos muros, nas vias
Tu eras gata
E eu vira lata vadio!
Corria ao encontro do teu corpo
E do cio
Implorava pena a este bichano insolente
Um bicho doente
Sedento e frio!

sábado, 17 de outubro de 2009

Expliquei-lhe o amor

Eu disse adeus aos teus olhos de luz
Não me queriam!
Vestiam disfarces vagabundos!

Hoje revi minhas
palavras sozinhas!
Eu as queria...


Decidi que este seria um poema de adeus!

Dizem que os poetas bebem demais
Por que será que se corrompem?
Seria porque temem seu querer sem tamanho?

Esta pagina decidi que não teria rascunho
Pois fora feita a meu punho...
E a estas letras não deixaria fugir!
Fuga de nenhum sentimento!
As letras dançam valsas incoerentes
Que fogem desta caneta, saltam de minha gaveta!
Cofre de meus sentimentos...

Deveras vezes perdão eu lhe pedi, sensata dama!
A quem debulhei pensamentos,
Descrevi meu olhar, expliquei meus momentos.

Ai, ai, ai de mim...
Que sou vil, inconsequente e bandido!

Deveras vezes dedilhei tu'alma...
pois pensei que era minha

Dedico-te minha ultima valsa, solene, mesquinha
Mas era tua, não minha!

Bailaste em meu corpo, teu corpo doente
Doente de amor, sedento de dor!
Em noites vazias
teus olhos o calor!
foras minha!
Deixei em teus olhos, momentos e flor...
Minhas mãos ainda estão em teus seios.
Pegadas sem freios!
Eras minha...
numa noite vazia, conheceras o amor
que eu lhe dei!
expliquei-te o que eras de fato mulher!
naquele instante e em todos os outros, foras minha...

De nada eu sei, senão do amor
Das minúcias e rimas, somente eu sei
Intimamente os conheço e sei soletrar!

E eu lhe falei de fadas e flor;
Por isto o amor, eu lhe expliquei
Teu peito de dor curei para mim...

Meu bem, meu bem, leve de mim
Apenas as cores de um verso sem fim

Poeta eu sou!
Com todos os detalhes
Das noites boemias, das damas pequenas
Das canções e da dor!

Poeta me fiz...
Para talvez condenar o teu peito
A deixares o direito de seres feliz!

Esqueças os versos, esqueças a dor
lembre do amor que um dia lhe fiz!

sábado, 5 de setembro de 2009


A SOLIDAO


O que fazer quando ela chegar?
Virar a face como sinônimo de indiferença?
Pedir cuidadosamente que se retire?
Ou dar a ela toda crença?
Quando ela chegar, subitamente invadindo meu ego,
apossando-se do que restou, o que fazer?
E se ela chegar de mansinho, tomando um só cantinho
e depois pra sempre ficar?
Ela vai me acusar me ofender, agredir...
Ela vai ficar gigante dentro do meu vazio
Vai fazer-me chorar
O que fazer quando ela chegar?
Já posso ouvir seus passos!
Já posso adivinhar seus planos!
Já posso a sentir
Entrando; por alguma porta!
Mas estão fechadas; janelas e portas.
E não ouço nenhum ruído nem as vozes da noite
Não tem ninguém aqui!
Como pode ela chegar assim?
Se não tenho amigos nem pais?
O que fazer quando ela chegar?
Ouvirei sua voz a chamar?
Anunciará no jornal de domingo?
Deixará um bilhete debaixo da porta?
Mas estou sozinho neste quarto,
Sem ninguém para chorar minhas magoas ou brindar alegrias
Não posso escolher dentre amigos, qual o melhor coração;
Ou a maior alma ‘não possuo amigos’
O que farei quando ela chegar?
Falarei sobre meus amores frustrados, de desilusões,
Sobre sonhos?
Não sei, faz algum tempo que não falo com ninguém.
O que farei? O que farei?
Estou com medo de sua chegada
Pousará com asas na minha janela
Chegará discretamente disfarçada
Chamara na porta?
Ou gritará na esquina?
Estou aflita!
Mas não, realmente não devo temer!
Ouço uma voz a me dizer:
“Eu já estou aqui faz algum tempo, e você já se acostumou comigo”.
“Eu sou sua amiga e sua inimiga”...
Muito prazer,
Sou solidão!”


Débora Santos

RIACHO


Na beira de um riacho
Sentei-me cabisbaixo
Olhando para baixo
Segurando o coração
Pensei em jogá-lo na fonte
Que acaba defronte
Defronte a solidão
Minha alma chorando dizia
Que a doce água descia
Levando consigo a minha ilusão
No doce riacho
Qual riacho doce
Leva em suas águas a pouca esperança
A qual nunca se cansa
E se deixa tornar canção
Na grossa areia da fonte
Que se acumula aos montes
A preta desilusão
Elevo meus olhos ao céu
E peço a papai do céu
Que se me deres uma chance
Não serei mais como antes
Em troca lhe faço uma prece
Pedindo a estrela que desce
E cai pendente
A estrela cadente
Devolvendo o sonho ao meu coração
Que agora suponho em fertilizar a semente
Na doce água do riacho corrente
Que de volta trouxe vida a minha ilusão!

A MAE AUSENTE...



Mãe, tu és comparada a uma arvore frutífera;
A qual deu luz a uma ceifa de bons frutos.
Tu és rosa que colore um imenso jardim
Tu escapaste das minhas mãos feito um pássaro
E te perderam meus olhos no desmedido azul!
Fragmentos e ti estão vagos em meu ser
Esta imune aos meus apelos
Fechados estão teus ouvidos a meus lamentos
Eu sou a flor derradeira de teu imenso jardim...
Um botão de rosa a desabrochar sem tua luz serena
Falta-me o orvalho a banhar as pétalas vermelhas de sangue
Tuas lagrimas sutis que são como o orvalho cristalino
Falta-me a brisa a consolar-me tua ausência
Sou um pássaro em cativeiro
A cantar o desconsolo ao vento
A cantar inútil a esperança morta

(homenagem a minha saudosa mae)

MORENO

Moreno, não posso sair no sereno.
Não vou armar barraca em teu terreno
Não vou invadir teu espaço.
Mas me diz o que eu faço
Quando me perco em teus olhos pequenos
Em tua pele morena, com cor de canela;
E esta voz que me parece o vento suave a balbuciar com a janela
Diz-me moreno
Que não tem feitiço em teus olhos
E mágica em tuas mãos
E que quando me pedes um beijo
Foge da minha boca qualquer possibilidade de um não!
Fale-me moreno
Em que escola aprendeu a ser tão sereno
Onde foi que conquistou este gostoso veneno
Onde foi que bronzeou este corpo de pecado moreno
Onde foi moreno, onde foi?
Que aprendeu a cativar tantos corações pequenos?
E adoçou esta boca que tanto fala de amor
Onde comprou este cheiro de flor
Onde foi moreno, onde foi?
LABIOS DE POETA

O que dizem teus olhos de criança
O que dizem teus lábios de poeta
O que se passa nessa cabeça, moço.
Onde esta teu sorriso de esperança
Onde foram tuas doces palavras de encanto
Agora, desencadeia teu pranto!
Onde as canções ternas que dizem de amor
E suas lembranças de festas e parques
Teu paraíso de sonhos...
Onde menino?
Tardes de sol, inverno gotejante, outonos e vendavais e verões...
Onde foram as bolhas de sabão ao vento?
Onde violetas e dálias
Emudecidos estão teus lábios, moço!
Não balbucia sequer uma palavra
Onde moço, onde?
Nós outra vez, falando de flores,
Falando de cores...
Ah! Lábios de poeta...
Diga-me apenas uma palavra de acalento
Para que baste meu pranto
Diga-me só mais um verso
Para que eu sonhe de novo com teus lábios de poeta...

sexta-feira, 19 de junho de 2009

De sabiá e menino pobre...



eu estava molhando os pés no lago


já era noitinha...

ouvi um sabiá recitar poesia

eu queria ficar por lá...

a noite foi chegando

impondo estrelas e majestade!

convidou uma lua pra festa

e um poeta pra cantar a seresta!



ouvi um menino chegar


ele arrastava um chinelo velho


e o sabia de peito amarelo

sabia do esmero da poesia e das historias que trazia

o chinelo do menino...

historias de melodias tristes

de lágrimas e desatinos...

de menino sem colo de mãe,

e de mãe sem beijo de filhinho...

então sabia murmurou umas notas afinadas

e deixou escapar sua alma de passarinho

e foi chorar la no cantinho com pena do menininho

eu estava na beira do lago molhando os pés

eu vi os sabiá chorar

eu vi os pés do menino...


sabiá chora cantando

e menino pobre lamenta sonhando...


Débora Santos...
(homenagem ao meu filho Joao Victor)

quinta-feira, 14 de maio de 2009

À Lua



Lua, Rosa branca...

Flutuas no céu, sozinha...
Quem foi que a despetalou,
E a deixou semi nua, minguando...
Escondendo tuas vergonhas com o manto negro da noite?



A confundiram um dia...
Uns olhos caiados e robustos de arrelia!
Pensaram que eras um queijo!



Gente desmamada!!!
Possivelmente, não tivera mãe
E nem mesmo beijo de namorada!



Pois qual ser, que diante da contemplação
De tua silenciosa solidão;
Nas noites em constante vigilia
Em que vagas com teu clarão
À conotariam, apelidariam-na Queijo?!?



Qual ser, desprovido de suavidade
Nunca a adorou em madrugada dolorida;

Com os olhos d'água a confessar um amor perdido

Acaso, confessara esta mágoa à um Queijo?


Justo tú, Rosa pálida,
Que foras condenada à solidão etérea...
Perambulas desconsolada
Pelo buraco escuro da madrugada...
Não podia de fato ser Queijo!



Pois quais mãos abençoadas
Saberiam elaborar com tamanha precisão,
um Queijo com teu padrão???



Que em vezes estaria robusta, 'Cheia'!
N'outras ainda com novidades!
Não velha, mas 'Nova'!



Ou qual homem, conhecedor da culinária celeste,
Moldaria um Queijo,
Que vezes cresceria em harmonia, 'Crescente';
N'outras ainda sem fermento 'Minguaria'?



Não, não, não!


Quem a confundiria com um Queijo,
Pétala branca e solitária?



Certamente homem deveras descontente.
Que desconhece a ventura da paixão ardente!
Que fora abandonado pela mãe ainda no ventre,
E não aprendeu a sonhar contente!



Este cigano mal humorado
Não deve ter conhecido em vida,
Nenhuma poesia...



Ai que se eu o encontro andante pelas ruas,
Dou-lhe logo uma palmada
E depois de rima, lhe conto uma ou duas!



E aposto, Rosa branca, Lua,
Que nunca mais lhe chamará Queijo!!!



E já que estas a partir,
Rasgando a noite enfada,
Vai-te com Deus,
Um abraço e um beijo!!!




14/05/2009

domingo, 26 de abril de 2009

quarta-feira, 22 de abril de 2009


EU VI UM MENDIGO

Este mendigo estava sem lar...
Tinha numa das mãos uma trouxa;
N'outra a desilusão
Carregava nos olhos, o vazio da solidão.
Trazia nos lábios, uma palavra silenciada...
Trazia nos lábios, a fome, o nada...
Trazia nos ombros, o peso do mundo!
Este mendigo, trazia nas vestes,
O cheiro pútrido da miséria sua...
Este mendigo trazia nos traços
Lembranças do rosto do meu avô!

Meu avô era mediano!
Meu avô era negro!
Meu avô era magro!
Meu avô era solitário!

Este mendigo trazia nos passos
Os rastros do meu avô...
Meu avô não era belo...
Meu avô era nobre...
Meu avô era pobre...

Este mendigo era deste planeta
Meu avô 'Marciano'...

Eu vi o mendigo aquela noite...
Ele era magro também!
Ele era negro também!
Ele era solitário também!
Ele, a todo instante dizia um 'ai'!

Mas o meu avô, meu avô era pai!
Meu avô Marciano, era pai do meu pai...


20/04/09

sexta-feira, 10 de abril de 2009

Rias de Mim




Hoje eu parei
Com meu corpo inerte
E com os olhos pairando sob o nada,
Deixei que meus sentidos voassem

Eu já conhecia teus olhos!
Eu os via algum tempo...
E nesta noite parecia-me que iam embora
Eu os via todos os dias!
Mas nesta noite havia um pouco de adeus!

Eu nada sabia sobre despedidas
Apenas sobre descobertas!

Estes olhos que recebiam-me sempre a sorrir
Hoje estava conciso, morno, meio morto, teu olhar
Eu me vesti de palhaço sem saber!
havia uma lágrima
Ela escapou dos meus olhos
Eu não sabia dizer adeus
E fostes assim sem acenar a outrora afável mão
Como eu acenaria a mão, a mão minha?!
Que por caminho só conhecia o das tuas curvas?
Como conter os olhos a lacrimejar
Molhados pelo desprezo dos teus...
O que fazer com um dia inteiro sem ti?
Pois metade de mim a desejava, meio dia
E a outra metade a possuía, meia noite!
O que faço deste tolo que sou, que fui
afoito sem o teu, o nosso mórbido coito?

Eu quis pedir que ficasse
Que não partisse
Mas minha boca boquiaberta, calou-se!
Justo eu, que julgava-me conhecedor das palavras, do amor?
não soube o que dizer a tua mão de adeus

Fui acompanhando com o olhar
Tua silhueta partindo...
O vento ainda perambulou em teus cachos.
então fostes embora rebolante a caminhar...

Então senti-me ainda mais feio!
Corri os olhos a vidraça e percebi um semblante áspero
Vi um homem calvo, gordo e mediano,
Com um cigarro nos dedos, e um copo nas mãos.
vi meu aspecto desfazendo-se feito fumaça!

Quis correr ao teu encontro.
Deitar-lhe um beijo angustiado
E depois desfalecer aos teus pés fugitivos.
No entanto tu partirias mesmo assim
A limpar com o verso da mão
o desenho molhado do meu beijo rogado!
Jogaria os cachos caramelados como símbolo de desprezo
E partirias ainda mais depressa!
Abandonando meu corpo moribundo no caminho
Tendo como consolo meu ultimo suplício.

Então desta vez eu choraria alto!
Berraria teu nome rente a ofensas!
Lamentaria aos teus conhecidos e estranhos
Diria que eras cruel!
Que escarrara na face do meu amor!
Que desdenhara de mim!
Que debochara do poema que lhe dei!

Eu maquinava ainda com o corpo lançado ao solo
No entanto calei-me!
Não a chamei
Deixei teu corpo caminhado ainda com o cheiro do adeus
Ainda restava em meus olhos a lembrança do teu semblante
Afável, fidalgo, belo...
Ajeitei-me a sarjeta;
Queimei meu cigarro, tomei o meu trago,
E não mais chorei!

segunda-feira, 2 de março de 2009

A VELA



A Vela


A vela.
Derretendo-se!
Sua pequena chama
Vai devorando sua substancia...
Ela vai consumindo-se.
Imóvel...
Seu fogo na leve dança
Embalado pelo sopro do ar, balança!
E derrama as borras
Por seu corpo
Como lágrimas.
Da dor que deveras sente.
Sem cessar, seu sangue corrente.
Ate que se consome por inteiro...
Deixando os detritos dela
O que antes fora uma vela!

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009


Morena


Minha doce pequena
Tua face tão serena
Tira-me fora de cena
Quando tu passas e não me acenas
Ah! Minha amada, toda morena.
Não tens ao menos pena
Desta pobre alma pequena
Que vive a desfalecer
Que constante se envenena
Do amargo de não me querer
Este sorriso que tanto encena
É o retrato do meu viver
Deste ser pacato e doente
Que tanto se faz de contente
Quando tua face tu me deixas vir
Ah, minha doce pequena.
Teus olhos, morena.
É o que mais quero ter!

Débora Santos

À FLOR DA PELE 



Faço amor como quem faz poesia...
As vezes como quem lê um verso triste.
N'outras como quem morre de sede.
Faço amor como quem Vinicius de Moraes

No seio daquela donzela aprendi a poetar...
O peito dela se abria, enquanto meu lábio sorria
Extasiado por deleitar no teu ventre de mulher

Eu me chamo Chico de Moraes.
Mas me chamam de Maria Regina.
Eles me bateram eu ainda era Toquinho.
Cresci meio Neruda
Em meio a discos quebrados,
Eu ouvia a voz de Billy
Só que ninguém me entendeu
E nem ousaram compreender
Foi me rasgando retirando as impurezas;
Que hoje sou assim, incompreendido!

Eu tentei gritar!!!
Mas teu seio em minha boca impedia!
Tentei explicar que aquilo era pra ser contado entre melodia!
Chamaram-me impuro, outros, vagabundo!
Mas eu, eu sofria...
Nem poetar eu podia...
Embriagado, sujo e pobre, eu ia, ia seguindo os passos daquela moça.
Que esbanjava soberania.
Jesebel!
Meu amor não queria!
Apenas pedia, implorava que eu lhe fizesse amor!
Amor como quem faz poesia!


Débora Santos/ Taís Santana

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009


Pátria solteira

Pátria minha, pátria minha
Ai que estou a lamentar neste momento
Chorar por nós teus filhos
Todos os filhos que não temos pai
Ai mãe gentil conte-nos quem foi que a corrompeu?
Quem lhe tirou a pureza
E fez de ti uma mãe solteira?
Ai que ele não nos fez tanta falta assim...
Pois tu nobre senhora
Honrada e madre!
Deu-nos o amor que tinhas
E nada restou para ti!
Conte-nos mãe solitária
Que lutaremos por teus direitos...
Que gritaremos junto aos poderosos opressores
Que a condenam por ser solteira
Que a colocam na posição terceira
E por ter gerado tantos órfãos...
Mas todos apaixonados por ti, mãe gentil.
Não mais gemerá sozinha pela madrugada!
A remoer magoas antigas
Daqueles que a fizeram mulher sem beira!
Não és bandoleira!
É moça inocente, sonhadora...
Que amamentou milhares de filhos
A adoramos pátria nossa!
Debruce teu rosto gentil em nossos tantos ombros solidários
Que tuas lagriminhas serão enxugadas
E teus cabelos grisalhos, enfeitados de verde e amarelo!


Débora Santos



Por que vens?


Por que vens?
Se eu te amo com um amor completo!
Com um amor amável, palpável...
Se é somente contigo que me toma um louco desejo
De que não vivamos só este momento
Mas que bailemos uma eternidade!
Por que vens?
Insensato e triste, por quê?
Se eu te vejo a cada momento
Se contigo sonho sonhos de acácias?
Deliro sóbria, enlouqueço sana.
Eu, que te quero com um querer desmedido, incurável!
Então, por que vens?
Duvidar deste amor extasiante!
Deste amor, que nem mesmo é devolvido!
Um amor que ama só
Que sonha só
Que me entristece e me alegra só!
Por que vens?
Se não me amas com este mesmo amor
Se tenho migalhas de ti!
Se não sonhas comigo o mesmo sonho!
Não se extasia com o mesmo êxtase!
Então?
Por que vens se não me amas!


Débora Santos 04/04/2001
Lembranças de amar



O que te direi dos amores que tive
Se nada se compara a loucura e maresia que vivi contigo
O que te direi de saudades
Se ao pensar em ti
Suavemente toma-me a alma
Uma flama deslumbrante de bel-prazer
Se me corta o peito a desfiá-lo em sangue
Quando sinto o teu cheiro
Que me é trazido por um vento garoto
Ao remate de fazer-me lembrar-te
Lembrar de ti, doce amado.
O que jamais poderia esquecer
O que direi do meu passado
Percebo que caíram em esquecimento
Desde o sublime momento
Em que pude te ver
Perdoa-me por este amor sem beira
Por amar-te assim em um instante
O que em uma vida inteira
Nunca por outro pude sentir
Por amá-lo todo, de uma só vez.
Por amar teus deslizes, teus defeitos.
Então o que te direi dos amores que tive?


Debora Santos
O PREÇO


Em certos versos me encontro.
Em alguns sonetos de apego...
Identifico-me sempre em desilusões.
E recordo antigos sossegos.

Tu és bandido, sim, ladrão!
Roubou-me a inocência
E como consolo, deixou-me assim, fria...
Com medo de amar, pavor da paixão!

E nem assim perguntou se eu sofria!
Em teu novo mundo, reina a ilusão.
Esqueceras de nossas singelas noites e humildes dias...

Se pudesse resolver teu destino
Na cela aquecida do meu peito te trancaria
E lá, eternamente pagarias, tecendo meu coração!

Débora Santos

domingo, 1 de fevereiro de 2009

Amigo de Augusto...


AMIGO DE AUGUSTO


Disseram-me que não era assim que poetava.
Com rimas e versos infantis
Que o amor se cantava com a proeza dos anjos.
Mentiras de corações febris!
Que os homens não choram.
Que as damas lamentam.
Que os velhos morrem.
E as crianças não sonham
Mas eu quis citar em meu verso um ombro gentil
De alguém que quisera ser angelical.
Por segundos refugiou alma de querubim
Augusto, nobre, pueril
Quis ser anjo, mas anjo não fora!
Pois abrigava no seio um calor infinito.
Alguns chamavam paixão, outros amor!
Mas nada se soube dizer, apenas que era cruel
Aquilo que ardia em tua veia, contaminava tu'alma...
Quase se via tuas asas, de puro que era
Augusto, não era menino, mas homem ainda não era!
As vezes chorava, mas esta água escondia.
Podia até narrar e quem sabe até adivinhar quando aconteceria!
Era só voltar o pensamento ao semblante de certa dona...
Que não era menina, mas estava longe de ser mulher!
Tinha nos olhos um pouco de maresia
Nos teus lábios, alguma abelha fabricou moradia
Puro mel destilava, e esbanjava ardor quando ela sorria
Tinha um rubor discreto nas maças do rosto
E um arranjo de musica na voz que sofria
Ai... Musa divina, porque devorou a alma daquele pobre anjo
Ele apenas queria dizer, que lhe amava
Quando eu repousava, pensando nesta dama, pensei poetar
Seus ondulantes cabelos e neste mesmo momento eu soube;
Que haveria de desistir
Recuar de uma estrada ingrata, que chamaram um dia, paixão...
Mas confesso, não pude!
Mesmo que quisesse, eu não saberia como voltar pois emprestei meu peito, àquela moça.
Ela tinha um cheiro de mar, e os pés cheios de areia. e os cabelos molhados, embaraçados!
Ai, que não pude recusar o bronzeado do corpo de sereia...
Augusto meio homem, meio menino, chorava
Eu, que quis ser poeta um dia, sofria!
Augusto a podia amar
Eu, escondia!
Enquanto ele gritava, chorava!
Eu, eu não podia...
Todos dele tinham pena
De mim ninguém compadecia, nem clamar eu podia!
Os olhos daquela libertina pra mim sorriam!
E pra Augusto, ardiam...
Eu nunca soube o que havia em baixo daquele vestido
Já o maldito Augusto, sabia!
Ai, que o pobre era meu amigo, e a mim havia confidenciado;
Em outras madrugadas em qual das curvas morenas ele havia se perdido
Soletrou o sabor dos beijos ardentes da boca sadia!
Toda vez que eu a admirava, eu sabia
Sabia como na penumbra ela gemia...
Perdoa-me gentil dama, eu te amava.
Augusto padecia!
Vim-me embora daquele lugar, para esquecer os olhos que me sondavam,
Mas eu sabia, sabia que um dia
Por causa daquela dona, poeta eu seria...


quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Resposta aos caes


QUE LADREM OS CÃES!
QUE MORDAM-SE DE MEDO OU ÓDIO!
EU NÃO VOU PARAR!
MEU TREM ESTÁ A TODO VAPOR!
E MEU ALAZÃO À GALOPE!
LADREM SEUS CÃES!
EU SOU PURA!
SOU REAL!
SOU AMANTE!
EU SONHO!
VAMOS EMBORA SONHO MEU...
SIMBORA PR'UM LUGAR ONDE VOU NINÁ-LO
ACARICIAR-LHE OS CABELOS DE CACHOS AMÁVEIS
VOU DESENHAR NA AREIA DA PRAIA UMA POESIA SÓ PRA VOCÊ
E SEUS OLHOS ME AMARÃO COM UM POUCO MAIS DE CLEMENCIA
DEIXEM QUE SE RASGUEM OS CÃES, ENLOUQUECIDOS DE FÚRIA!
MAS EU, MEU SONHO MENINO, CUIDAREI DE TI COMO UMA MÃE TOMADA DE AMOR!
PORQUE EU CARREGO VOCÊ DEBAIXO DAS MINHAS ASAS
PORQUE EU OLHO TEUS OLHOS TODAS AS NOITES AO REPOUSAR-ME ANGUSTIADA...
PORQUE, CONFESSO-TE HUMILDEMENTE, QUE MORA EM MEU PEITO UM CORAÇÃO DE POETA, NO QUAL HABITAM FLORES RASTEIRAS, E MARGARIDAS PEQUENAS...
ONDE SOPRA UM VENTO IMPIEDOSO, QUE ME ARRANCA DO CAIS, E ME LEVA A DERIVA PRO MEIO DO MAR
MAS TU, SONHO, VAIS COMIGO, ONDE QUER QUE EU VÁ!
DEIXEM QUE LADREM OS CÃES, ELES SÃO CRIATURAS CARENTES, SOLITÁRIAS E INFELIZES...
TENHAS TU, PENA TAMBÉM DOS CÃES!

Debora Santos