boa noite, solidão!

Boa noite, solidão!

Já me aguardavas no meu leito

Para acompanhar-me na noite?

Do que devemos falar,

De devaneios, sonhos, ou paixão?

Boa noite, solidão!

Amiga incerta e vã...

Acaricia-me as lágrimas e se deleita em meu divã.

Queres desabafar, rir, chorar,

Aconselhar-me ou calar-me?

Boa noite, solidão!

Queira ao menos me ouvir agora,

Já que vieste de fora, para deitar-se comigo!

Seja de certo meu ombro amigo

Ouça minhas palavras, distinta senhora!

Algo maltrata meu peito

Flores denominadas amor!

O que fazer nesta hora, em que tudo se torna distante

E o que mais me parece constante és tu, solidão?

Leva consigo meu peito

E este amor que nem mesmo sei direito

Se posso chama-lo de amor!

E agora, de tristeza, fechei meus olhos

Boa noite, solidão!



Débora Santos





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terça-feira, 3 de fevereiro de 2009


Morena


Minha doce pequena
Tua face tão serena
Tira-me fora de cena
Quando tu passas e não me acenas
Ah! Minha amada, toda morena.
Não tens ao menos pena
Desta pobre alma pequena
Que vive a desfalecer
Que constante se envenena
Do amargo de não me querer
Este sorriso que tanto encena
É o retrato do meu viver
Deste ser pacato e doente
Que tanto se faz de contente
Quando tua face tu me deixas vir
Ah, minha doce pequena.
Teus olhos, morena.
É o que mais quero ter!

Débora Santos

À FLOR DA PELE 



Faço amor como quem faz poesia...
As vezes como quem lê um verso triste.
N'outras como quem morre de sede.
Faço amor como quem Vinicius de Moraes

No seio daquela donzela aprendi a poetar...
O peito dela se abria, enquanto meu lábio sorria
Extasiado por deleitar no teu ventre de mulher

Eu me chamo Chico de Moraes.
Mas me chamam de Maria Regina.
Eles me bateram eu ainda era Toquinho.
Cresci meio Neruda
Em meio a discos quebrados,
Eu ouvia a voz de Billy
Só que ninguém me entendeu
E nem ousaram compreender
Foi me rasgando retirando as impurezas;
Que hoje sou assim, incompreendido!

Eu tentei gritar!!!
Mas teu seio em minha boca impedia!
Tentei explicar que aquilo era pra ser contado entre melodia!
Chamaram-me impuro, outros, vagabundo!
Mas eu, eu sofria...
Nem poetar eu podia...
Embriagado, sujo e pobre, eu ia, ia seguindo os passos daquela moça.
Que esbanjava soberania.
Jesebel!
Meu amor não queria!
Apenas pedia, implorava que eu lhe fizesse amor!
Amor como quem faz poesia!


Débora Santos/ Taís Santana

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009


Pátria solteira

Pátria minha, pátria minha
Ai que estou a lamentar neste momento
Chorar por nós teus filhos
Todos os filhos que não temos pai
Ai mãe gentil conte-nos quem foi que a corrompeu?
Quem lhe tirou a pureza
E fez de ti uma mãe solteira?
Ai que ele não nos fez tanta falta assim...
Pois tu nobre senhora
Honrada e madre!
Deu-nos o amor que tinhas
E nada restou para ti!
Conte-nos mãe solitária
Que lutaremos por teus direitos...
Que gritaremos junto aos poderosos opressores
Que a condenam por ser solteira
Que a colocam na posição terceira
E por ter gerado tantos órfãos...
Mas todos apaixonados por ti, mãe gentil.
Não mais gemerá sozinha pela madrugada!
A remoer magoas antigas
Daqueles que a fizeram mulher sem beira!
Não és bandoleira!
É moça inocente, sonhadora...
Que amamentou milhares de filhos
A adoramos pátria nossa!
Debruce teu rosto gentil em nossos tantos ombros solidários
Que tuas lagriminhas serão enxugadas
E teus cabelos grisalhos, enfeitados de verde e amarelo!


Débora Santos



Por que vens?


Por que vens?
Se eu te amo com um amor completo!
Com um amor amável, palpável...
Se é somente contigo que me toma um louco desejo
De que não vivamos só este momento
Mas que bailemos uma eternidade!
Por que vens?
Insensato e triste, por quê?
Se eu te vejo a cada momento
Se contigo sonho sonhos de acácias?
Deliro sóbria, enlouqueço sana.
Eu, que te quero com um querer desmedido, incurável!
Então, por que vens?
Duvidar deste amor extasiante!
Deste amor, que nem mesmo é devolvido!
Um amor que ama só
Que sonha só
Que me entristece e me alegra só!
Por que vens?
Se não me amas com este mesmo amor
Se tenho migalhas de ti!
Se não sonhas comigo o mesmo sonho!
Não se extasia com o mesmo êxtase!
Então?
Por que vens se não me amas!


Débora Santos 04/04/2001
Lembranças de amar



O que te direi dos amores que tive
Se nada se compara a loucura e maresia que vivi contigo
O que te direi de saudades
Se ao pensar em ti
Suavemente toma-me a alma
Uma flama deslumbrante de bel-prazer
Se me corta o peito a desfiá-lo em sangue
Quando sinto o teu cheiro
Que me é trazido por um vento garoto
Ao remate de fazer-me lembrar-te
Lembrar de ti, doce amado.
O que jamais poderia esquecer
O que direi do meu passado
Percebo que caíram em esquecimento
Desde o sublime momento
Em que pude te ver
Perdoa-me por este amor sem beira
Por amar-te assim em um instante
O que em uma vida inteira
Nunca por outro pude sentir
Por amá-lo todo, de uma só vez.
Por amar teus deslizes, teus defeitos.
Então o que te direi dos amores que tive?


Debora Santos
O PREÇO


Em certos versos me encontro.
Em alguns sonetos de apego...
Identifico-me sempre em desilusões.
E recordo antigos sossegos.

Tu és bandido, sim, ladrão!
Roubou-me a inocência
E como consolo, deixou-me assim, fria...
Com medo de amar, pavor da paixão!

E nem assim perguntou se eu sofria!
Em teu novo mundo, reina a ilusão.
Esqueceras de nossas singelas noites e humildes dias...

Se pudesse resolver teu destino
Na cela aquecida do meu peito te trancaria
E lá, eternamente pagarias, tecendo meu coração!

Débora Santos

domingo, 1 de fevereiro de 2009

Amigo de Augusto...


AMIGO DE AUGUSTO


Disseram-me que não era assim que poetava.
Com rimas e versos infantis
Que o amor se cantava com a proeza dos anjos.
Mentiras de corações febris!
Que os homens não choram.
Que as damas lamentam.
Que os velhos morrem.
E as crianças não sonham
Mas eu quis citar em meu verso um ombro gentil
De alguém que quisera ser angelical.
Por segundos refugiou alma de querubim
Augusto, nobre, pueril
Quis ser anjo, mas anjo não fora!
Pois abrigava no seio um calor infinito.
Alguns chamavam paixão, outros amor!
Mas nada se soube dizer, apenas que era cruel
Aquilo que ardia em tua veia, contaminava tu'alma...
Quase se via tuas asas, de puro que era
Augusto, não era menino, mas homem ainda não era!
As vezes chorava, mas esta água escondia.
Podia até narrar e quem sabe até adivinhar quando aconteceria!
Era só voltar o pensamento ao semblante de certa dona...
Que não era menina, mas estava longe de ser mulher!
Tinha nos olhos um pouco de maresia
Nos teus lábios, alguma abelha fabricou moradia
Puro mel destilava, e esbanjava ardor quando ela sorria
Tinha um rubor discreto nas maças do rosto
E um arranjo de musica na voz que sofria
Ai... Musa divina, porque devorou a alma daquele pobre anjo
Ele apenas queria dizer, que lhe amava
Quando eu repousava, pensando nesta dama, pensei poetar
Seus ondulantes cabelos e neste mesmo momento eu soube;
Que haveria de desistir
Recuar de uma estrada ingrata, que chamaram um dia, paixão...
Mas confesso, não pude!
Mesmo que quisesse, eu não saberia como voltar pois emprestei meu peito, àquela moça.
Ela tinha um cheiro de mar, e os pés cheios de areia. e os cabelos molhados, embaraçados!
Ai, que não pude recusar o bronzeado do corpo de sereia...
Augusto meio homem, meio menino, chorava
Eu, que quis ser poeta um dia, sofria!
Augusto a podia amar
Eu, escondia!
Enquanto ele gritava, chorava!
Eu, eu não podia...
Todos dele tinham pena
De mim ninguém compadecia, nem clamar eu podia!
Os olhos daquela libertina pra mim sorriam!
E pra Augusto, ardiam...
Eu nunca soube o que havia em baixo daquele vestido
Já o maldito Augusto, sabia!
Ai, que o pobre era meu amigo, e a mim havia confidenciado;
Em outras madrugadas em qual das curvas morenas ele havia se perdido
Soletrou o sabor dos beijos ardentes da boca sadia!
Toda vez que eu a admirava, eu sabia
Sabia como na penumbra ela gemia...
Perdoa-me gentil dama, eu te amava.
Augusto padecia!
Vim-me embora daquele lugar, para esquecer os olhos que me sondavam,
Mas eu sabia, sabia que um dia
Por causa daquela dona, poeta eu seria...