AMIGO DE AUGUSTO
Disseram-me que
não era assim que
poetava.
Com rimas e versos infantis
Que o amor se cantava com a proeza dos anjos.
Mentiras de corações febris!
Que os homens não choram.
Que as damas lamentam.
Que os velhos morrem.
E as crianças
não sonham
Mas eu quis citar em meu verso um ombro gentil
De
alguém que quisera ser angelical.
Por segundos refugiou alma de querubim
Augusto, nobre, pueril
Quis ser anjo, mas anjo
não fora!
Pois abrigava no seio um calor
infinito.
Alguns chamavam paixão, outros amor!
Mas nada se soube dizer, apenas que era cruel
Aquilo que ardia em tua veia, contaminava tu'alma...
Quase se via tuas asas, de puro que era
Augusto,
não era menino, mas homem ainda não era!
As vezes chorava, mas esta água escondia.
Podia até narrar e quem sabe até adivinhar quando aconteceria!
Era só voltar o pensamento ao semblante de certa dona...
Que não era menina, mas estava longe de ser mulher!
Tinha nos olhos um pouco de maresia
Nos teus lábios, alguma abelha fabricou moradia
Puro mel destilava, e esbanjava ardor quando ela sorria
Tinha um rubor discreto nas maças do rosto
E um arranjo de musica na voz que sofria
Ai... Musa divina, porque devorou a alma daquele pobre anjo
Ele apenas queria dizer, que lhe amava
Quando eu repousava, pensando nesta dama, pensei
poetar
Seus ondulantes cabelos e neste mesmo momento eu soube;
Que haveria de desistir
Recuar de uma estrada ingrata, que chamaram um dia, paixão...
Mas confesso, não pude!
Mesmo que quisesse, eu não saberia como voltar pois emprestei meu peito, àquela moça.
Ela tinha um cheiro de mar, e os pés cheios de areia. e os cabelos molhados, embaraçados!
Ai, que não pude recusar o bronzeado do corpo de sereia...
Augusto meio homem, meio menino, chorava
Eu, que quis ser poeta um dia, sofria!
Augusto a podia amar
Eu, escondia!
Enquanto ele gritava, chorava!
Eu, eu não podia...
Todos dele tinham pena
De mim
ninguém compadecia, nem clamar eu podia!
Os olhos daquela libertina pra mim sorriam!
E pra Augusto, ardiam...
Eu nunca soube o que havia
em baixo daquele vestido
Já o maldito Augusto, sabia!
Ai, que o pobre era meu amigo, e a mim havia confidenciado;
Em outras madrugadas em qual das curvas morenas ele havia se perdido
Soletrou o sabor dos beijos ardentes da boca sadia!
Toda vez que eu a admirava, eu
já sabia
Sabia como na penumbra ela gemia...
Perdoa-me gentil dama, eu te amava.
Augusto padecia!
Vim-me embora daquele lugar, para esquecer os olhos que me sondavam,
Mas eu sabia, sabia que um dia
Por causa daquela dona, poeta eu seria...